Estudantes do Christus reclamam do transtorno, enquanto os de outras instituições pedem anulação total
O clima era tranquilo, no fim da tarde de ontem, na sede do Pré-Universitário do Colégio Christus, na Rua Nunes Valente, entre os estudantes da instituição, mesmo após o anúncio da possível fraude, devido ao vazamento de questões e ao cancelamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Depois do fim das aulas, professores e alunos conversavam na calçada do edifício, mas a maioria não queria falar sobre o assunto.
Uma aluna, que não quis se identificar, afirmou que não acredita que o colégio tenha agito de má-fé, mas que, na verdade uma coincidência, acabou acontecendo. "Não vejo motivos para que o Christus revele as questões do Exame e nem como conseguiu algo tão importante", opinou.
Além disso, ela acrescentou que não tem medo de fazer uma nova prova. "Me preparei bastante durante todo este ano e, por isso, sei que vou passar em qualquer prova que eu faça, Fui muito bem nas que eu fiz no fim de semana passado", afirma.
Desgaste
Nas redes sociais, muitos alunos do Christus mostraram-se indignados depois de saberem que terão de fazer um novo exame, e consideram injusto ter de passar por uma nova prova.
Muitos também saíram em defesa do colégio e afirmaram que é comum, todos os anos, a instituição acertar questões do Enem. "Todo colégio faz material simulado baseado em questões no estilo do Enem. Foi o que o Christus fez. Eu não entendo que houve compra de questões ou que o colégio agiu de má-fé. Agora, é injusto a gente ter que pagar por isso. É uma prova longa, cansativa. É uma desgaste", disse uma estudante do 3º ano do Christus, que preferiu não se identificar.
Já alunos de outras instituições de ensino na cidade pedem a anulação da prova para todos. "A gente passa anos por uma preparação para fazer essa prova, e é frustrante, quando chega o dia, saber que outros alunos saíram na frente porque já tinha as questões. É muito ruim ter de fazer de novo, mas pelo menos fica de igual para igual", diz Ana Paula Oliveira da Silva, estudante do 3º ano do colégio Justiniano de Serpa, da rede estadual.
O aluno do pré-vestibular do Colégio Farias Brito, Gabriel Gomes Lopes, disse que se sentiu surpreso com o que aconteceu devido a seriedade e tradição da instituição envolvida. "Ao mesmo tempo, me senti prejudicado, pois não foram só as questões iguais que os deixaram com vantagem, mas o tempo que eles ganharam por ter demorado menos em cada questão".
Lopes disse que entende o sentimento dos alunos do Colégio Christus, pois eles não tiveram culpa no acontecimento. "Por isso, sou a favor de que haja uma nova prova em âmbito Nacional, a fim de que ninguém possa ser prejudicado".
As questões idênticas nas quais o conteúdo foi antecipado pelo Colégio Christus foram as seguintes: no 1º dia (sábado, 23 de outubro), prova amarela, nº. 87, 46, 50, 74, 57, 34, 33, 32; no 2º dia (domingo, 24 de outubro), prova amarela, questões nº. 113, 180, 141, 173 e 154.
PRECONCEITO
Casos de xenofobias nas redes sociais
Já não bastasse a ansiedade por conta da prova do Enem, do resultado do gabarito e dos riscos de anulação de todos os exames do País, o clima piorou, ontem, com os assédios e ações de preconceito nas redes sociais da internet contra os cearenses e nordestinos.
As mensagens, veiculadas no Twitter e no Facebook, tinham um forte grau de xenofobia. As pessoas utilizavam palavras grosseiras e ofensivas contra a origem e cultura do Nordeste. Em um dos depoimentos, o usuário diz: "Se fosse eles, soltava um bomba no Nordeste, que matava quem antecipou a prova e todos os outros nordestinos".
Em outro momento, uma nova frase circula pelas redes sociais. "Se esses nordestinos aprontarem ano que vem, eu jogo uma bomba nuclear lá". Grande parte das mensagens traz palavras que remetem aos preconceito e à inferioridade. "A nova prova do Enem vai ser só para nordestinos?", questionou uma internauta.
O presidente da OAB-CE, Valdetário Monteiro, afirmou que a instituição está analisando os fatos para decidir sobre as possíveis providências.
Não é a primeira vez que os nordestinos são alvo de ataques nas redes sociais. Depois da eleição da presidente Dilma Rousseff, uma universitária do curso de Direito usou o Twitter e o Facebook para atacar o grupo. "Nordestino não é gente. Faça um favor para São Paulo: mate um nordestino afogado!", escreveu, criticando a vitória de Dilma no Nordeste.
fonte:http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1062251
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